Antítese - João Batista e Jesus Nazareno


A antítese é a porta estreita que o erro mais gosta de usar para se introduzir na verdade (Nietzsche em "Humano, demasiado humano").


Apesar de a mentira ter sido introduzida na verdade dos Evangelhos, contudo muitos não percebem porque se recusam ver com seus próprios olhos, todavia devido aceitar cegamente as interpretações superficiais de terceiros como sendo corretas, geralmente desde a infância.


O segredo do contraste entre Jesus e João Batista, sabiamente colocado no início do Evangelho do apóstolo Marcos, apesar de visível a qualquer pessoa, estava reservado para ser revelado no seu devido momento oportuno. Verifique agora em primeira mão tal segredo.


Conforme consta na Bíblia, João Batista iniciou o seu sermão dizendo:


Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados. Desse modo, a multidão era batizada por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. E João andava vestido de pelos de camelo, e com um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre. E pregava dizendo: Após mimvem àquele que é mais forte do que eu, ao qual não sou digno de abaixando-me, desatar a correia das suas alparcas. (Marcos, 1:4 a 7).
Independentemente das crenças e interpretações religiosas anteriores, observe atentamente que João Batista era uma pessoa religiosa e moralista, vestido a caráter e vivia ainda apegado a rituais religiosos e a idéia de pecado. Ele pregava dizendo que era chegado o "reino de Deus", porém esse tal reino estava fora, ou distante das pessoas (estava no futuro, viria depois dele). As pessoas, assim como ele próprio, não eram dignas.


Ora, se ele próprio como líder religioso não se considerava digno espiritualmente da vida (o caminho, a verdade e a vida), imagine os seus seguidores! E o interessante disso é que a maioria das religiões ainda hoje, prega da mesma forma e ainda acha o máximo. Entretanto, se o homem não tem nenhuma dignidade espiritual, então porque ele precisa ouvir tal bobagem? Logo, não haveria necessidade de nenhuma religião.


Naquele exato momento, segundo João Batista, esse suposto reino distante (imaginário, no além) se revelaria depois (no futuro), através de algum misterioso profeta. Pois, até então, nem João Batista nem ninguém conheciam, nem ainda haviam ouvido falar de Jesus Cristo (Mateus, 11:2 e 3). Portanto, tal "verdade" era naquele momento apenas uma teoria de salvação com base nas profecias do Velho Testamento (uma crença religiosa). Por isso não era uma verdade (algo verídico). Era apenas mais uma promessa de salvação no futuro como as demais daquela época.


O próprio João Batista muito depois de tal sermão (já na prisão), ainda tinha dúvidas a respeito de Jesus, veja você mesmo como está escrito:


E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos, a dizer-lhe: Es tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro? (Mateus, 11:2 e 3).
Logo, se Jesus Cristo não aparecesse realmente, em carne e osso, tal profecia estaria sendo esperada pelas pessoas até hoje. E as pessoas continuariam ingenuamente seguindo até hoje tal ensinamento religioso moralista, como sendo o máximo, a espera do imaginário Messias.


Conforme verificamos, nem o próprio João Batista se considerava também digno de ser filho de Deus (da Vida). Mas, ao contrário de João Batista, Jesus (um homem também humano) sem toda aquela pose de santo como João Batista, apareceu dizendo (após João Batista ter sido entregue a prisão): "O Reino de Deus está próximo..." (Marcos, 1:14 e 15).


Ou seja, o Reino de Deus não estava tão distante do homem conforme pregavam as religiões da época e inclusive João Batista. Totalmente o contrário do que João Batista vinha pregando antes de ser preso. No entanto, não significa que o reino de Deus está próximo, no sentido de que se aproxima para se revelar, como alguns interpretam. Significa que o reino de Deus não está longe de nós, o contrário do que a maioria das religiões sempre pregou até hoje. O Reino de Deus próximo, significa onipresença.


Após Jesus dizer: "O Reino de Deus está próximo", Ele acrescentou: "Arrependei-vos e crede no evangelho". Porque isto já fazia parte do rudimento de sua doutrina provisória e rudimentar (Hebreus, 6:1° a 2). Pois, as pessoas tinham uma forte consciência de pecado reforçada, todavia pelas religiões moralistas da época, e estas palavras chamavam a atenção como ainda hoje. Por isso era necessário utilizá-las inicialmente. Porém, Jesus não utilizou o batismo de arrependimento dos pecados (obras mortas do passado, linguagem bíblica) como fez João Batista. Jesus apenas introduziu tal ritual simbólico em sua doutrina rudimentar (inicial), devido à necessidade do povo ignorante. Mas, segundo está escrito (conforme veremos) somente os discípulos utilizaram provisoriamente o batismo com água, menos Jesus. Contudo, não por acaso.


Quando Jesus apareceu com sua boa nova (tempo cumprido, Reino próximo, íntimo), diferente do imaginário, do além (futuro), João Batista já estava na prisão, conforme observado. A frase de Jesus "tempo cumprido" (Marcos, 1:15), além de afirmar que a profecia se cumpriu agora, significa "fim do tempo", "fim da promessa de salvação ou redenção no além", ou seja, "a salvação (iluminação) é realmente agora".


Portanto, significa que a salvação ou redenção profetizada pelas religiões já não é mais somente prometida ou assegurada, a qual vai acontecer somente no futuro (nunca agora), porém cumprida ou realizada agora mesmo pela vida revelada através do homem que descobre a realidade da vida agora dentro de si, e si liberta da imaginação da mente (devaneio mental, passado e futuro).


Caso seja de fato uma verdade que o futuro acontece sempre agora, então esperar por uma redenção no além, num futuro longínquo significa esperar indefinidamente, porque tal futuro jamais chegará se não for agora. Logo, a redenção esperada no futuro, independente do momento presente (agora), significa imaginação (crença sem fundamento real).


Ainda existem aqueles que não aceitaram ou não admitiram Jesus como o Messias, e continuam esperando à vinda do Messias até hoje. Eles vão continuar esperando indefinidamente até acordar para a realidade da vida agora, porque a vida é real e se revela agora através de nós mesmos (ser humano). Não vai aparecer nenhuma vida inteligente na terra, se não for através de um corpo (forma) de alguém real e não imaginário.


Como João Batista era abstêmio, pertencia a ele a origem do voto de pobreza e de castidade (Lucas, 3:10 a 14), (Lucas, 7:33 e 34). Só que, isso não tinha nada a ver com Jesus, a antítese de João, conforme também consta nestes dois últimos versículos. Ou seja:


Veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio. Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homemcomilão e bebedor de vinho, amigos dos publicanos e dos pecadores (Lucas, 7:33 e 34).
Logo, divulgar um Evangelho semelhante ao de João Batista (vida eterna no além, no futuro e pose de santo), ou a favor da abstinência (idéia de pecado) significa pregar o contrário do que Jesus ensinou, ou seja, a liberdade (II Coríntios, 3:17).


Desculpem-me, mas a verdade é dolorosa, todavia devido o nosso apego à mentira. Portanto, o filósofo Nietzsche apesar de criticado em sua época e ainda hoje pelos religiosos, tinha uma visão semelhante à de Jesus. Não foi por acaso que ele também foi ignorado pela maioria.


Observe que o profeta (Jesus) anunciado até então por João Batista, se baseando nas profecias do Velho Testamento, apareceu completamente diferente da pregação e da expectativa do próprio João Batista (líder religioso), pois Jesus não era abstêmio, nem tinha uma pose de santo como João Batista. Tem pessoas que se recusam enxergar a realidade dos fatos históricos, devido suas convicções religiosas.


Foi com razão que Nietzsche disse que Jesus naquela época aboliu também a ideia de pecado, porque Jesus não foi um religioso moralista conforme os leigos interpretam até hoje.


Observe que, quem segue uma religião semelhante à de João Batista, é a maioria das pessoas, a multidão (Mateus, 3:5 a 7). Quanto a Jesus, conseguiu apenas alguns poucos homens como discípulos inicialmente, inclusive algumas mulheres também, é que os machistas da religião patriarcal ocultaram. Isso não acontece por acaso, contudo, hoje já é possível encontrar mais pessoas preparadas espiritualmente para compreender e vivenciar a verdade da vida real interior e não imaginária.


Ainda hoje a maioria das pessoas religiosas que seguem a Bíblia, não está seguindo exatamente o Evangelho otimista de Cristo como acreditam, mas um Evangelho sombrio e moralista semelhante ao de João Batista, não por acaso também, mas devido à necessidade interior de cada um.


Preste atenção o que acontece em sua volta e em seu interior. Não tenha medo de descobrir que você pode está errado e que foi enganado, geralmente desde a infância. É como disse sabiamente Nietzsche, leia com atenção:


Aquele que sabe que é profundo esforça-se por buscar a clareza; aquele que gostaria de parecer profundo à multidão, esforça-se por ser obscuro. Uma vez que a multidão acredita ser profundo tudo aquilo de que não pode ver o fundo. Tem tanto medo! Hesita em se meter na água! (A Gaia Ciência).


A coisa obscura ou inexplicada é vista como mais importante do que a clara e explicada.


Correntes fortes arrastam consigo muitas pedras e arbustos; espíritos fortes,muitas cabeças tolas e confusas.


Ninguém fala com mais paixão de seus direitos do que aquele que no fundo da alma tem dúvida em relação a esses direitos. Levando a paixão para o seu lado, ele quer entorpecer a razão e suas dúvidas: assim adquire uma boa consciência, e com ela o sucesso entre os homens (Humano, demasiado humano).
A convicção ardente religiosa que Jesus também se referiu, inclusive Nietzsche, contudo pertence às doutrinas semelhantes à de João Batista, as quais alegram as pessoas temporariamente com a sua pequena luz (João, 5:35).


O próprio Jesus fez questão de não utilizar o mesmo batismo de João Batista (João, 4:1° a 2), apesar de ter introduzido no rudimento de sua doutrina provisória, devido à necessidade do povo. Contudo, se João Batista batizou realmente a Jesus e teve aquele diálogo com Ele no rio Jordão, e viu o "Espírito Santo" descer realmente sobre Ele em forma de pomba (algo externo, separado do homem), porque então agora estando na prisão, ele não sabia se Jesus era mesmo o Messias? Logo, algum escriba ou discípulo de João Batista pode ter exagerado na narrativa, porém há quem não queira enxergar a realidade.


Jesus não tinha nada a ver com tal ritual simbólico (batismo com água), nem com religião, porque Ele era muito sábio e realista, e a maioria das religiões geralmente se baseia no imaginário, na fantasia mental (pensamentos abstratos).


Devido João Batista se apoiar no futuro imaginário, chegou a duvidar da realidade do agora, ou seja, se Jesus era realmente o Messias (o cérebro prefere o imaginário). Muitas pessoas não percebem tais detalhes, porque lêem a Bíblia superficialmente, e devido ter aceitado a interpretação superficial de terceiros como sendo correta.


Por isso o filósofo Nietzsche disse:


Se quiser subir, servi-vos das vossas pernas! Não vos deixeis levar ao alto, não vos senteis nas costas nem na cabeça de outrem! (Assim Falou Zaratustra).
Quanto à profecia bíblica (do Velho Testamento), referente ao Messias, não se concretizou somente com João Batista e com Jesus, ela sempre se repete na realidade. É só prestar atenção a realidade. É preciso despertar nossa consciência espiritual agora, para tanto, é preciso abrir mão das fábulas do pensamento abstrato e prestar atenção na realidade da vida real agora (Hebreus, 6:1° a 2).


É preciso compreender porque o apóstolo Paulo aboliu realmente os rudimentos da doutrina de Cristo. Embora aqueles que não aceitaram tal mudança radical, tentaram deixar o assunto confuso (tentaram omitir o que Paulo fez). Mas, na verdade Paulo havia concluído sim, tal mudança de grau de iniciação espiritual. Infelizmente os leigos continuam sendo enganados quando lêem tais versículos sem prestarem atenção e sem questionarem.


Conclusão, João Batista estava realmente em dúvida (confuso), nem ele mesmo acreditava na teoria religiosa de salvação e doutrina rígida que havia pregado. Mesmo assim, atraiu a multidão para a escravidão através da moral religiosa imposta.


Segundo o apóstolo Paulo, onde está o Espírito de Cristo, aí há liberdade. É preciso ser realmente livre, dono de sua própria vida e investigar a realidade atentamente e sem medo, pois quem depende de uma moral tradicional não é livre, vive conduzido pela crença de terceiros. Podemos compreender isso melhor, lendo o que Richard Wagner escreveu certa vez:


A paixão é melhor do que o estoicismo e a hipocrisia; ser sincero, mesmo no mal vale mais do que perder-se a si próprio na moralidade da tradição, o homem livre pode escolher ser bom ou mau, mas o homem não-livre é uma vergonha da natureza e não tem direito a nenhuma consolação celeste ou terrestre; enfim, todo aquele que deseja tornar-se livre só poderá fazê-lo pelosseus próprios meios, a liberdade nunca cai do céu a ninguém por milagre (Richard Wagner em Bayreuth, II, 493).


Segundo Nietzsche: "Sermos nós, avaliarmo-nos de acordo com as nossas próprias medidas, pesarmo-nos com os nossos próprios pesos, era coisa que então chocava o gosto".
Por isso que Jesus e Nietzsche foram criticados e rejeitados inicialmente, principalmente pelos religiosos que pregavam a escravidão da vida (João 5:16). Por pouco, também os livros de Nietzsche não teriam chegado a nós, pois poucas pessoas se interessaram inicialmente. A própria Bíblia chegou a nós com atraso e pela metade (devido à ausência dos Evangelhos apócrifos), além das adulterações. Porém, se não fosse Lutero, provavelmente não teríamos acesso a Bíblia até hoje. Ele também cumpriu com sua missão intermediária de pouco brilho.


Observe atentamente na Bíblia, a diferença radical entre Jesus e João Batista, e descubra se você é livre ou escravo. Observe se você não tem uma pose de santo e se veste a caráter, assim como João batista se vestia e se comportava socialmente de forma reprimida.


Seja natural, espontâneo e sincero como uma criança. Seja você mesmo, verdadeiro, sem máscaras nem artifícios. A vida real é natural e espontânea. Não sufoque mais a vida interior através de crenças e rituais absurdos (sabedoria humana). Preste atenção em sua intuição, o que é que ela lhe diz intimamente? Não importa que o intelecto que julga e condena, sugira que sua vida está errada em almejar ser livre. A vida nada mais é que liberdade e criatividade!