Dificuldade em Compreender os Evangelhos

Eu creio que o filósofo Nietzsche não havia notado o significado dos versículos de Hebreus, 6:1° a 2, que trata da eliminação dos rudimentos da doutrina provisória de Cristo, do contrário ele não teria criticado o apóstolo Paulo. Na realidade ele não gostava do Novo Testamento, para ele o Novo Testamento tinha sua dificuldade expressa em cada uma de suas palavras. Por isso, ele preferia o Antigo Testamento, que também segundo ele, apesar de ter sofrido adulterações, era mais genuíno, além de não afrontar tanto assim a vida enquanto aquilo que ela realmente é, em nome de uma outra no além, como negação do mundo e da vontade. Ou seja, como negação da realidade do agora, da vida real. Logo, se Deus é de fato a vida, conforme diz a Bíblia, então quem divulga um "Deus" imaginário, separado da vida real, o que será que estariam negando realmente? Vendo desse prisma, o filósofo Nietzsche não era de fato ateu. Nesse caso, quem seria então realmente ateu?


Portanto Nietzsche, assim como muitas outras pessoas encontrou dificuldade ao ler o Novo Testamento. Pois, geralmente quando lemos inicialmente, percebemos como ele é indigesto e pessimista, porque expressa também a crença negativa e fabulosa dos fariseus. Quem ainda segue o Novo Testamento ao pé da letra (ignorando a abolição dos rudimentos da doutrina provisória de Cristo), está seguindo a religião moralista dos fariseus da época de Jesus, e não exatamente o verdadeiro Evangelho otimista e científico de Cristo. Infelizmente o resultado desta ignorância, todavia vemos diariamente em toda parte. Falam constantemente o nome de Jesus (humano), porém nada entendem a respeito do Espírito de Cristo (Vida real interior, consciência profunda). Cristo em nós (Colossenses, 1:26 e 27).


O Espírito de Cristo significa liberdade (II Coríntios, 3:13 a 18), exatamente porque se trata da própria vida. O próprio Jesus dizia, Eu Sou a Vida, mesmo sendo humano como nós. Pois, não existe vida sem liberdade. Portanto, aqueles dentre os discípulos que às vezes eram chamados de santos (linguagem da época), já haviam atingindo um elevado grau de consciência espiritual, contudo não eram reprimidos nem abstêmios como João Batista, conforme muitos imaginam. Observe a diferença entre João Batista e Jesus Nazareno descrito nos Evangelhos.


O verdadeiro Homem interior (Consciência espiritual), ou Super-homem significa Cristo (Cristo em nós). Lucidez. O que Nietzsche denominou Zaratustra (Zaratustra em nós). Nome de um lendário sábio persa, utilizado como representação do Espírito de Nietzsche. Ele poderia ter utilizado também a palavra "Cristo", porém como ele era anticristão, optou por outro nome. Entretanto, isso não significa que ele fosse realmente um anti-Cristo. Anti-Cristo significa quem nega a verdadeira identidade espiritual do ser humano. Pelo menos isso ele não fez, conforme a maioria das religiões ainda hoje faz.


Nietzsche não aceitou tal Evangelho equivocado divulgado em sua época, porque era um homem livre. Porém, o religioso conduzido (homem de rebanho, segundo Nietzsche) não é livre, e a primeira coisa que faz é se apegar à idéia pessimista e doentia de "pecado" (obras mortas do passado). Rudimentos da doutrina antiga e ultrapassada.


Observe que muitas pessoas acham a Bíblia indigesta, cansativa, sombria e sanguinária. Só quem segue ao pé da letra, são os que apreciam a doutrina dos fariseus de hoje. Mesmo assim, muitos deles ficam entediados também ao ler a Bíblia. Inclusive Nietzsche que não apreciava o Novo Testamento, porém se simpatizou mais com o Budismo, demonstrando seu bom gosto, ao dizer que o Budismo continha uma filosofia positiva, apesar também de criticá-lo.


O próprio filósofo Nietzsche disse a respeito dos Evangelhos:


Reconheço que leio poucos livros com tanta dificuldade como os evangelhos.


Já vai longe o tempo em que também eu, como qualquer outro jovem erudito,rebuscava, com a prudente lentidão de um filósofo requintado, a obra do incomparável Strauss. Eu tinha então vinte anos, agora sou demasiado sério para isso. O que me interessa é o tipo psicológico do Salvador. Este poderia estar contido nos Evangelhos, ainda que mutilado e sobrecarregado de traços estranhos.
Observe que o filósofo Nietzsche também havia notado a adulteração do Novo Testamento, mas assim como eu e mais algumas pessoas bem intencionadas, não perdeu a esperança de encontrar algo útil e legítimo. Com tais palavras Nietzsche justificou com a sua peculiar sinceridade, a sua incapacidade de compreender o Novo Testamento. Ele já não tinha mais a paciência de um jovem erudito que examina minuciosamente, com a prudente lentidão de um filósofo requintado, os Evangelhos (imagine se ainda tivesse).


Mesmo assim, ainda criticou a Jesus, porém bem pouco. Já o apóstolo Paulo ele criticou bastante. Quanto a Jesus ele fez alguns elogios e considerações, claro, como não faria! Ele poderia ter sido mais sábio do que Jesus, por que não? Afinal Jesus era humano também. Contudo, não podemos negar a sabedoria extraordinária de Nietzsche. Embora Nietzsche também não foi capaz de compreender a frase de Jesus: "não resistas ao mal". Porém, isso é o mesmo que dizer "sim a vida inocente", "não resistir maliciosamente à realidade natural comoela é, achando que seja realmente pecado (mal)". Significa não reprimir nem escravizar a nossa vida, como fazem aqueles que reprimem os instintos naturais para mostrar que são santos, até entrarem em contradição e aparecer os escândalos. Afinal, "não há castidade que resista às belas mulheres do Paraguai!".


Em sua época, assim como Nietzsche, Jesus iniciou a divulgação da verdade dizendo que "o reino de Deus está próximo" (aqui e não no além). Este era o grande segredo (boa nova), já que prevalecia a crença geral dos escribas, fariseus, sacerdotes e de João Batista, segundo a qual "o reino de Deus está no além" (longe, separado da vida real do homem). A mesma crença da maioria das pessoas de ainda hoje, religiosa ou não.


Enquanto isso procure em um dicionário o significado das palavras "além" e "próximo" e perceba ambas as diferenças. Dependendo do dicionário, para a palavra "além" você vai encontrar o significado "futuro", entre outros, e para a palavra "próximo", você vai encontrar o significado "íntimo", entre outros.


O termo "reino de Deus" era usado pelas religiões naquela época, Jesus tomou emprestado, usando apenas como introdução em sua doutrina provisória.


Já o grande segredo (boa nova) do filósofo Nietzsche, foi revelar quem eram os verdadeiros anti-Cristos. Porém, ele foi ainda mais longe ao afirmar que a vida eterna é aqui mesmo. Até Jesus ele estranhou, e por isso ele chamou Jesus de "estranha criatura". Confundiu Jesus com Buda (somente a natureza interior de ambos é a mesma). Contudo, Jesus foi um homem (humano), que experimentou também um nível de consciência muito elevado, assim como Buda. Por isso Jesus tinha que ser realmente diferente e incompreendido pela maioria. Já Eckhart Tolle, alemão (ironia do destino, diria Nietzsche), Joel S. Goldsmith, Osho, Krishnamurti, entre outros, vieram para lembrar e apontar a verdade, a qual Jesus havia ensinado e não deixaram à gente compreender nem experimentar. Conforme Jesus já havia previsto: O tal Espírito da verdade (Consolador), que não falaria de si mesmo, mas revelaria o que tivesse "ouvido" (João, 16:12 a 14). Estas são aquelas pessoas capazes de compreender a frase de Jesus: "Eu de mim mesmo, nada posso fazer".


Quanto não falar de si mesmo, porém revelar o que foi "ouvido". Como ouvido? De onde vem tal voz da verdade eterna? De nosso interior, não tenha dúvida!


A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou (João, 7:16).


Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória, mas o que busca a glóriadaquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça (João, 7:18).
Observe que Jesus estava falando no segundo versículo, a respeito das demais pessoas que atingem uma consciência mais elevada.


Quanto ao filósofo Nietzsche, devido ele haver percebido a superficialidade do Evangelho de Paulo, baseado inicialmente nos rudimentos da doutrina de Cristo, disse que o Deus de Jesus Cristo não é o mesmo Deus de Paulo, pois em Cristo estava já o próprio Deus, que feria as instituições (visão rara). E, se nada foi encontrado sobre o que Jesus Cristo escreveu, já o mesmo não se pode afirmar de Paulo. Todavia, eu acredito que provavelmente destruíram o "Evangelho" escrito por Jesus Cristo, porque o conteúdo deveria está além de sua época, afinal Jesus Cristo sabia ler e escrever, segundo a Bíblia. Logo, por que Ele não escreveria também pelo menos um manuscrito? Porém a humanidade ainda não estava preparada para tal (João, 16:12 a 14). Por exemplo: se Nietzsche tivesse também nascido um pouco antes, ele e seus livros teriam sido queimados na "fogueira santa", com toda certeza.


Segundo ele, se Lutero tivesse sido queimado como Hus, a aurora do Iluminismo teria surgido talvez um pouco antes, e com brilho mais belo do que agora podemos imaginar. Porque naquela época, o cristianismo estava naturalmente saindo do imaginário e se aproximando do ceticismo, da ciência. Contudo o cérebro sonhador (condicionado) odeia a ciência (tudo o que seja real), exatamente porque ele é imaginário (virtual). Não passa de um computador, uma máquina de sonhos. Tudo o que é real, para ele é mentira, e a mentira (o imaginário) para ele é real. E assim surgem as religiões moralistas e anticientíficas no mundo (devaneios da mente).


Quanto ao Deus de Paulo, na verdade era o próprio Espírito de Cristo (Cristo em nós, lucidez). Nietzsche apenas confundiu a doutrina dos fariseus nos Evangelhos como sendo de Paulo, além de não haver percebido que o apóstolo Paulo abriu mão dos rudimentos da doutrina provisória de Cristo (Hebreus, 6:1° a 2).


O conteúdo científico ensinado por Jesus se perdeu parcialmente, devido à interferência da sabedoria humana (serpente astuta). Teorias intelectuais a respeito da vida eterna (infinita) ou simplesmente a respeito da eternidade, ou "tempo eterno", como preferia Nietzsche.


Paulo por sua vez escreveu apenas cartas, porém posteriormente, por ignorância, além da adulteração dos textos, misturaram tais cartas aleatoriamente em um único suposto Evangelho, ignorando assim os graus de iniciações e a abolição da doutrina provisória e rudimentar de Cristo, dificultando assim ainda mais a compreensão das pessoas. Algumas escolas esotéricas, por exemplo, ainda hoje divulgam seus ensinamentos através de graus de iniciações. Isto é necessário, porque há sempre pessoas leigas ou iniciantes e pessoas mais experientes e mais avançadas nos estudos.


Ao compreender isso, percebemos que Jesus em sua época foi tão ou mais sábio que o próprio filósofo Nietzsche. Jesus não foi pouca coisa, como alguns sabichões tentam em vão provar através de suas teses teóricas.